Sábado, 3 de Julho de 2004

Morreu Sophia de Mello Breyner Andresen

sophia.jpg



  • (Fotografia de  Luísa Ferreira©)


A excepcional  escritora e poetisa Sophia de Mello Breyner Andresen morreu, nesta sexta-feira (02 de julho de 2004), em Lisboa, aos 84 anos. Nome grande da poesia portuguesa, deixa-nos no entanto, um legado poético incomensurável. Sua escrita de rigor clássico traduz-se numa enorme simplicidade de linguagem para dizer a aliança do ser com o mundo através de imagens nítidas como a terra, o sol e o mar. Em sua homenagem deixo aqui registrado, alguns de seus poemas de minha predileção. prefix = o ns = "urn:schemas-microsoft-com:office:office" />


 


 




Bebido o Luar


 


Bebido o luar, ébrios de horizontes,


Julgamos que viver era abraçar


O rumor dos pinhais, o azul dos montes


E todos os jardins verdes do mar.


 


Mas solitários somos e passamos,


Não são nossos os frutos nem as flores,


O céu e o mar apagam-se exteriores


E tornam-se os fantasmas que sonhamos.


 


Porquê jardins que nós não colheremos


Límpidos nas auroras a nascer,


Porquê o céu e o mar se não seremos


Nunca os deuses capazes de os viver.


 


 



Poesia


 


 


Se todo o ser ao vento abandonamos


E sem medo nem dó nos destruímos,


Se morremos em tudo o que sentimos


E podemos cantar, é porque estamos


Nus em sangue, embalando a própria dor


Em frente às madrugadas do amor.


Quando a manhã brilhar refloriremos


E a alma possuirá esse esplendor


Prometido nas formas que perdemos.


 


Aqui, deposta enfim a minha imagem,


Tudo o que é jogo e tudo o que é passagem.


No interior das coisas canto nua.


 


Aqui livre sou eu — eco da lua


E dos jardins, os gestos recebidos


E o tumulto dos gestos pressentidos


Aqui sou eu em tudo quanto amei.


 


Não pelo meu ser que só atravessei,


Não pelo meu rumor que só perdi,


Não pelos incertos atos que vivi,


 


Mas por tudo de quanto ressoei


E em cujo amor de amor me eternizei.


 




Sophia de Mello Breyner Andresen

publicado por Andrea Motta às 01:41
link do post | comentar | favorito
31 comentários:
De Lia a 3 de Julho de 2004 às 03:07
Sophia de Mello Breyner esparrama suas Letras, deixa-nos seus poemas.Ela fica, ficará. Fincada, docemente, nos nossos corações.Beijinhos, minha amiga.

Comentar post

.mais sobre mim

.Dezembro 2010

Dom
Seg
Ter
Qua
Qui
Sex
Sab
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
11
12
13
14
15
16
17
18
19
20
22
23
24
25
26
27
28
29
30
31

.posts recentes

. Natal 2010

. Trova!

. Signa

. Violações

. Nudez

. 2009!

. Poema de Natal

. 25 de novembro dia intern...

. Incorporiedade

. Ação de Incentivo à Leitu...

.arquivos

. Dezembro 2010

. Agosto 2010

. Novembro 2009

. Abril 2009

. Fevereiro 2009

. Dezembro 2008

. Novembro 2008

. Outubro 2008

. Agosto 2008

. Julho 2008

. Junho 2008

. Maio 2008

. Abril 2008

. Fevereiro 2008

. Dezembro 2007

. Novembro 2007

. Setembro 2007

. Junho 2007

. Março 2007

. Fevereiro 2007

. Dezembro 2006

. Novembro 2006

. Setembro 2006

. Julho 2006

. Maio 2006

. Abril 2006

. Março 2006

. Fevereiro 2006

. Janeiro 2006

. Dezembro 2005

. Novembro 2005

. Outubro 2005

. Setembro 2005

. Agosto 2005

. Julho 2005

. Junho 2005

. Maio 2005

. Abril 2005

. Março 2005

. Fevereiro 2005

. Janeiro 2005

. Dezembro 2004

. Novembro 2004

. Setembro 2004

. Agosto 2004

. Julho 2004

. Junho 2004

. Maio 2004

. Abril 2004

. Março 2004

SAPO Blogs

.subscrever feeds